Deixar o ambiente velejar por você.

29/01/2012 00:43

 

Aqueles que navegam e/ou velejam necessitam desenvolver ao máximo seus sentidos para capturar, analisar e usar a seu favor as: forças, formas, intensidades dos agentes e elementos do meio para garantir o maior desempenho possivel de suas naves, sejam elas grandes ou singelas. Aprender a particularidade de ler: a Lua, a Maré, o Vento, o Pano, a Paisagem, a Fauna, as Ondas, os sons após a próxima curva de rio, o reflexo na água, são leituras já registrada por autores como José de Alencar em Obras como “O Ermitão da Glória”. Este cenário sugere que esta é uma ótima forma de ver o que não se vê e sentir o que não se sente, adivinhar ou exercitar a imaginação do que ainda não se descobriu na próxima curva de rio ou atrás de uma colina. É estar sempre uma manobra a frente das mudanças do vento e do mar. Ter cenários e paisagens gravadas e usadas como sistema de direção em nossa mente. A família Caiçara, com um coquetel de: imagens, histórias, estórias, documentos, lembranças e costumes registrados de geração em geração, garantiu uma forma única de navegação, vida e regras sociais. Assim foi escrito a Obra: Tambor, a qual narra a saga de uma família que decodificou a sua maneira os sinais do ambiente e que com fé e coragem usaram no passado, tudo que tinham para garantir a permacultura, o respeito e a vida. Ainda ouvimos suas vozes (in memória), conselhos que foram passados de pai para filho ao longo dos anos. Muito se tem feito para garantir a continuidade da: culinária, dança, religião, música e cultura caiçara, mas notei a necessidade de se preservar a forma como esta gente do passado sentiam e usavam a paisagem, os sentidos, e toda sorte de elemento neste tipo de navegação e que só existe uma forma de se vivenciar, é refazer o mesmo caminho...

Sentir o mesmo vento, o mesmo balanço e caturro do barco, os sons do mar e dos pássaros, os flashes da vida marinha, a conversa de poucos em um grande espaço vazio,...

Algo deve ser feito por este patrimônio (sensorial) que se não for alvo de esforços, passarão a ser lembrados como simples viagens (ir e vir) de um povo que um dia existiu.